sábado, 9 de abril de 2011

terra brasilis

As calmas margens do Ipiranga
Não mais ouvem o brado do seu Povo.
Também não ouvem as do São Francisco,
Nem as do Amazonas ou do Paraná:
O Povo heroico ficou mudo.

E o Sol da Liberdade, pirilampo,
Brilhava no céu da Pátria até um instante.
Mas então chegou a burocracia
Com sua amiga politicagem
E a Lua da Pobreza iluminou o Brasil.

E o penhor dessa Igualdade,
Conseguimos conquistar com braços fortes?
(Todo dia vejo pessoas comendo lixo
Querendo lixo
Vivendo lixo.)

Ó Pátria amada, idolatrada,
Salve, salve-se!

terça-feira, 22 de março de 2011

a grande paz dos seus olhos

Noite de paz, da grande paz na praia
Liberdade e Lua no mesmo brilho pálido de inverno
Vento cortante cortando o cerne dos meus ossos
Tristeza cortante cortando o cerne da minha alma
Amor cortante cortando o cerne do meu peito.

Noite de paz, da grande paz na praia
Menino moço brincando de bola na areia
Olhos de estrelas brilhando na escuridão da minha vida
Pele de estrelas brilhando na escuridão da minha estrada
Riso de estrelas brilhando na escuridão da noite.

Noite de paz, da grande paz na praia
Escuro profundo tomando o céu que nem areia
O vento acalma e a tristeza vai e o amor se aprochega
Olhos eu vejo e pele eu sinto e riso eu ouço
E não dá pra sair da teia dos teus braços
Porque eu caí nela que nem mosquinha na teia de aranha grande.

Noite de paz, da grande paz na praia
Teu grito e o meu numa oitava perfeita
Sem dor e sofrimento a gente anda
Sem vento e sem tristeza
Porque agora eu tenho a luz e eu tenho a paz
A Grande Luz e a Grande Paz dos seus olhos.

Tributo a Jorge Amado, com referências à obra Capitães da Areia

sexta-feira, 11 de março de 2011

soneto do desespero

Em mim só existe dor e sofrimento
Pois todos os que prezo se calaram.
Convivo, assim, com o descontentamento
Por ter perdido aqueles que me amaram.

Por que não me carregas em teu seio,
Ó Morte, mãe da dor e da alegria?
Eu sinto, enquanto perco-me em enleios,
Toda a tristeza do mundo num dia.

Ó Musa de Negro, venha me achar!
E suga de mim o sopro da vida,
Pois ele já não me induz a querer.

E quando a Noite profunda chegar,
Tira o meu sangue, como da ferida
Que tudo o que sinto é a alma doer.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

crônica do morto-vivo

Em meio às campas encontrei o meu descanso,
Em meio aos túmulos alheios o encontrei;
Há muito procurava um fim sereno e manso,
E, de tanto buscá-lo, à morte me entreguei.

Promessa de paz foi aquele doce encanto,
Que me atraiu para obscuro cemitério.
Só a Moira, boa e vil velha, ouviu meu pranto,
Cortou o meu fio e me lançou ao véu etéreo.

Junto aos meus queridos ancestrais durmo eu,
Pensando em toda a crueldade que sofri
E sabendo que sou uma alma que aprendeu:

Viva! Apesar de triste, como vivi,
E só a mim ocorrer o quanto isso doeu,
Eu já lamento, pois muito cedo morri.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

da crueldade da vida

Além daquela colina tem um rio
De águas muito claras, com pedras no fundo e nas margens,
E árvores muito bonitas que dão frutos gostosos.
Ali, eu sentei e chorei.

Chorei porque tem gente morrendo de fome
Tem gente morrendo de sede
Tem gente morrendo de amor;
Enquanto isso, lá no fundo, eu imagino
Como deve ser lindo
Morrer de amor.

Chorei porque a vida me veio, sedutora,
Me fez cair em seus braços,
Me mostrou sua amiga ilusão
E então fugiu,
Me roubando o coração.

Ai...! Poeta, dá graças
Porque seu coração lateja
Pela tua amada!

Ai...! Que sentir dor é melhor que não sentir nada.